Memórias de Natal

Lendo um artigo dia desses comecei a lembrar de como era “a cidade”, bairro central de Santos atualmente chamado de “centro” ou “centro histórico”.

Conta minha mãe que na juventude dela era muito bonito, especialmente nesta época do ano quando aconteciam concursos de vitrines de Natal entre os comerciantes, é gente Santos já foi meio Nova Iorque…

Lembro que na minha infância uma das coisas que eu mais gostava de fazer na época de fim de ano era ir na “cidade” à noite. Naquele tempo era na “cidade” que se concentrava o comércio forte de Santos, lojas de roupas e calçados adulto e infantis, brinquedos, enfeites de Natal, presentes, utilidades domésticas, tinha de tudo e assim como shoppings hoje em dia, “a cidade” ficava com suas lojas abertas até mais tarde.

No fim dos anos 70 era sempre assim, na segunda quinzena de dezembro , quando recebia uma gratificação no trabalho meu pai telefonava para casa pedindo que minha mãe, meus irmãos e eu nos encontrássemos com ele após o expediente em frente á finada Loja Marisa na Rua General Câmara onde ficava o antigo ponto final do trólebus 20. Chegara então o dia das compras de Natal!

Subir no ônibus já era uma enorme emoção!!! Ver tudo de cima, as cores, o cheiro, o clima… Não sei se é porque eu era criança ou se tudo aquilo era realmente bonito de verdade eu só sei que eu ficava numa felicidade que até hoje não sei explicar! A “cidade” anoitecendo e as lâmpadas coloridas ascendendo nas fachadas das lojas, os enfeites nas vitrines, o Papai Noel na porta da Loja Americana distribuindo balas e “anotando pedidos” me distraía enquanto meu pai fazia as vezes dele no caixa da loja comprando meu presente, e por mais incível que possa parecer eu nunca desconfiei de nada…

Meu Natal começava ali, comprando roupa e sapato novos para o Natal e para “o dia de Ano”, com meus pais e meus irmãos. Meu irmão mais velho sempre parava na loja de discos para comprar o “novo da Gal” pra ele e o “novo do Roberto” pro meu pai e no fim de tudo meu pai me sentava no balcão do Café Carioca e pedia “amigo, um guaraná sem gelo pra minha menina”, depois já com todos na mesa “jantávamos” pastel e depois voltávamos de Fusca 76 pra casa. Parece pouco, mas era tão, tão, tão bom.

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Éramos cinco, unidos, felizes comendo pastel, se contentando com o pouco que era muito, mas o amor estava alí e era genuíno. No dia  24  a nossa ceia podia ser apenas um frango da padaria  com rabanadas e a sobremesa podia ser só gelatina colorida ou manjar, o brinde era com Cidra Cereser e guaraná sem gelo mas, contra todos os problemas possíveis, a gente era uma família muito feliz.

Revendo agora a vinheta de fim de ano da Globo de 1978 eu posso compreender, deixando cair uma lagriminha no canto do olho, porque sou uma pessoa tão cheia de amor no coração.

3 comentários sobre “Memórias de Natal

  1. Bom ter o nosso passado tão presente …

    Eu fui um pouco mais além … anos 60 e lembrei que minha maior alegria nessa época, e algumas vezes até era o meu presente, ir à cidade apenas para apreciar a decoração das ruas, lindas … muito iluminadas com anjos, árvores de natal, bolas, sinos, menino Jesus, presépios, vários papais Noel distribuindo balas e pirulitos e recebendo as tais cartinhas …

    O segredo da Felicidade é exatamente isso, não deixar morrer o passado, esses momentos devem estar sempre presente em nossa mente, em nossos corações !

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